Bêbe/criança que não come

Cena clássica de um momento de refeição: Comida vira palco, bebê/criança, ator principal e papai e mamãe uma plateia exigente e cheia de expectativa.
Todos os dias o ato de comer vira, literalmente, um espetáculo. As vezes leve, as vezes um dramalhão intenso. 
Os pais chegam no meu consultório cansados, entregando os pontos, as vezes até medicados ("para anestesiar" uma mãe me disse). Isso é grave, gente. Alguns colocam a criança em uma escola em tempo integral. Todas as refeições ocorrem ali, e essa preocupação é terceirizada. Criança chega em casa "jantada, banhada e as vezes dormindo"...
Eu não estou aqui pra julgar ninguém. Estou aqui para ajudar. E se eu posso te dar um conselho, que aprendi e amadureci ao longo destes quase 8 anos de existência enquanto "nutricionista pediátrica", é esse:
Não elogie o bebê por ter comido tal alimento ou por ter raspado o prato. Não bata palma. Não dê ibope. Não barganhe o brócolis por uma sobremesa. NÃO DÊ TANTO PROTAGONISMO PARA A COMIDA.  
Sem tanta cena, tanta expectativa, tanto ibope... comer vira simplesmente, comer... e não um espetáculo com hora marcada.
No consultório esse conselho é unânime. E estabelecemos meios e caminhos para trabalharmos essa "diminuição do ibope". Eu faço uma planilha de todos os meus atendimentos. Nela eu não só coloco os dados básicos do atendimento, mas as orientações e desfechos. Esses dias filtrei por casos onde a queixa era "seletividade alimentar" e observei que dentre aqueles em que os pais toparam diminuir o protagonismo da comida, o caminho fluiu. Isso não quer dizer que a criança começou a pedir chicória no hortifruti. Isso quer dizer que a criança passou a comer normal. Com altos e baixos. Experimentou mais e muitas das vezes ficou até mais intuitiva para comer. Com o passar das consultas, a gente vai trabalhando o reconhecimento na criança dos sinais de fome e saciedade, e descobrimos, muitas vezes, que era tudo uma questão de falta de apetite. 
Bom... nestes anos todos tive muitos desfechos. Alguns bem dramáticos, pois havia um desejo dos pais de terceirização da resolução do "problema". Aquela história do: "toma, resolve, vou ali, volto e quero resolvido". Então, não funciona. Pode cruzar o bracinho e fazer bico. Se não sentar e olhar para a dinâmica familiar entorno da comida, nada vai mudar.
As vezes eu vejo colegas preocupados com desfechos demorados e complicados. Vão na casa do paciente, levam o pacientinho e sua família para fazer um pique nique, fazem uma revolução momentânea. Viram as costas e nada muda de verdade.
Enquanto a comida continuar sendo palco e protagonista, nada vai mudar.
Experimente relaxar. Genuinamente. Deixa à comida o espaço que lhe é devido, e observe. Você pode se surpreender. Comer é só comer. É tão importante quanto respirar, e o corpo da conta de respirar sozinho. Deixe o processo mais intuitivo, assim como respirar, e observe a mágica acontecer. O corpo sabe das coisas.


Beijinhos <3  
Postado por: Nutricionista Izabella Tesoto